Em vez de música e nostalgia, o público foi surpreendido por discursos políticos agressivos que geraram reações negativas, prejuízos e perda de credibilidade.
Durante um show em Contagem (MG), no dia 29 de março, Nasi gritou "sem anistia", em alusão aos eventos de 8 de janeiro de 2023, e foi vaiado. A resposta do vocalista, ao invés de ser de respeito ou reflexão, foi um ataque direto aos próprios fãs:
“Tem gente que acompanha o Ira!, mas nunca entendeu o Ira! […] Vão embora da nossa vida! Vão embora e não apareçam mais em shows, não comprem nossos discos.”
A frase que escancarou intolerância política virou um verdadeiro tiro no pé. Shows da turnê “Acústico 20 Anos” foram cancelados em Caxias do Sul (RS), Jaraguá do Sul (SC), Blumenau (SC) e Pelotas (RS), e a produtora 3LM Entretenimento confirmou que todos os ingressos serão reembolsados.
O Teatro Michelangelo, uma das casas que receberia a apresentação, também se posicionou: "Defendemos um ambiente de respeito e troca de energia positiva entre artistas e público." Algo claramente ausente na postura adotada pelo vocalista.
Rock que exclui não é rebeldia, é arrogância
Ao transformar o palco em palanque, a banda Ira! comete um erro grave: confunde liberdade de expressão com desrespeito. Ao afirmar que "bolsonaristas não são bem-vindos", Nasi ultrapassa qualquer limite razoável e assume um papel de juiz político — algo completamente fora de contexto em um ambiente que deveria ser de arte, entretenimento e união.
A música é — e sempre foi — um espaço de encontro entre diferentes ideias, gerações e visões de mundo. Quando um artista tenta impor sua ideologia como condição para o acesso ao seu trabalho, ele não está sendo corajoso, mas sim autoritário.
O discurso de ódio, seja de qualquer lado, não deve encontrar eco na cultura. Artistas têm o direito de se posicionar, mas jamais de excluir ou hostilizar quem pensa diferente. Nasi, ao atacar parte do seu público, esquece que o sucesso de um artista depende, sobretudo, da pluralidade e da liberdade de quem o consome.
Respeito é para todos — e a arte também
A reação do público, com vaias e pedidos de reembolso, mostra que o povo não aceita ser tratado como inimigo por ter opiniões políticas diferentes. Um show não é comício, e o fã não precisa provar fidelidade ideológica para assistir a um espetáculo. Basta gostar da música.
A arte é, ou deveria ser, um espaço livre — e essa liberdade não combina com a arrogância de quem se acha dono da verdade. Ao agir com intolerância, a banda Ira! perdeu mais do que shows: perdeu o respeito de muitos dos que um dia a admiraram.
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